A maioria das pessoas que acessam meu blog tem problemas com a balança, com a comida. Ao menos eu acredito que uma pessoa magrinha não teria interesse em ler o conteúdo de um mundo que me parece bem distante do dela. Só quem passa ou já passou por problemas com o peso vai entender ou se identificar com a história que contarei aqui. Só para esclarecer é real, faz parte da minha história.
Já contei aqui que sou obesa desde a infância, então eu nunca tive a experiência de comprar uma roupa de tamanho "normal". Quando contava com 10 anos já não usava mais roupas dessa idade, usava um tamanho bem maior. Nessa época já enfrentava a frustração de escutar 'não tem seu tamanho". O pavoroso, '"não cabe". Ao menos não o que eu gostava ou o que cabia nas minhas amiguinhas da mesma idade.
Os anos passaram e a obesidade me acompanhou até a adolescência, depois quando fiquei adulta e o problema parecia não ter solução. Era um ciclo, alguns meses suados de dieta, alguns quilos perdidos e depois vários anos com com o dobro do peso que havia perdido.
Mas foi num dia qualquer que essa história que divido com vocês começa. Eu estava com minha mãe num comércio próximo a minha casa quando me deparei com uma lojinha que vendia roupas. Eu sempre amei vestido e mexendo nas araras vi dois que me encantaram, fiquei apaixonada. Mas só de olhá-los na arara percebi que não cabiam em mim.
Não sei o que me deu, mas a primeira coisa que pensei foi: vou comprar. Comentei com minha mãe e ela me disse o obvio: não cabem em você. Retruquei: vou fazer dieta. Ela mesmo meio descrente me presenteou com os vestidos.
Mas eu não consegui fazer a dieta e os vestidos ficaram no armário. Quando íamos arrumar o armário para fazer a doação de roupas que não usávamos mais, minha mãe sempre coloca os dois vestidos no meio. Eu os retirava e dizia a ela: ainda vou usá-los. Os anos passaram e eu não emagreci e nem os usei. Mas não sei o porque também não conseguia doá-los.
Com 30 anos fiz a cirurgia, alguns meses depois mexendo no armário eu vi os vestidos. Meu Deus, eles ainda estavam ali. Eles de alguma forma representavam uma esperança, um sonho de vestir por primeira vez uma roupa que eu realmente eu gostei. A esperança de alguma poder me superar, ser maior que meu problema.
Não me lembro exatamente em qual mês (depois de operada) os encontrei e passei a experimentá-los. Nos primeiros meses não cabiam, faltava muito para fechar. Mas a cada mês faltava menos e era uma emoção tão diferente que eu sentia por perceber isso. E foi também, num dia comum, mas que eu não consigo esquecer que eles couberam, apertados mas couberam. As lágrimas não puderam deixar de cair.
Ninguém acreditava que eu vestiria aqueles vestidos, que eu emagreceria. Acho que no fundo nem eu achava mais isso possível. E vesti-los foi a realização de um sonho. O tempo passou e vestidos ficaram largos, que ironia. Um deles ainda é um dos meus favoritos. É uma gostosa sensação poder eliminar barreiras e alcançar obstáculos. É gratificante. A batalha é longa e a guerra contra obesidade não se vence, apesar de se poder controlar e isso é o mais importante.
Quem se deu o trabalho de ler essas linhas mal escritas eu tenho uma coisa a te dizer: acredite em você. Se agarre a seus sonhos. Eles podem ser desde um sonho bobo de caber num vestido ou podem ser maiores, não importa, acredite neles. Tenha fé, tenha paciência, a vida se dá aos poucos e as conquistas também. Seja Pela RA, seja pela cirurgia, acredite sempre em você, em algum lugar aí dentro tem o grande poder de superação.
Seus sonhos podem até estarem adormecidos, os meus ficaram anos a fio, mas eles estão aí, dentro de você, guardadinhos, esperando o medo ir embora para eles novamente tocarem seu coração e te mostrar que eles podem e vão ser alcançados, depende de ti.
Seus sonhos podem até estarem adormecidos, os meus ficaram anos a fio, mas eles estão aí, dentro de você, guardadinhos, esperando o medo ir embora para eles novamente tocarem seu coração e te mostrar que eles podem e vão ser alcançados, depende de ti.
Raquel
Só para atualizar